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Meia Maratona Internacional do Rio 2012

CRÔNICAS DE UM CORREDOR PITAQUEIRO
Depois de assistir a Maratona Olímpica, talvez eu tenha ficado mal acostumado. Espero que os responsáveis pela transmissão deste evento encarem as linhas abaixo como uma crítica construtiva. Não falarei do óbvio novamente. Não criticarei o horário da largada, quando a temperatura já se mostra uma grande inimiga para o melhor desempenho dos corredores.

Faltavam minutos para largada quando me sentei com caneta, papel e um pace calculator em frente da TV. Estava curioso para medir as parciais e a estratégias dos corredores. A experiência com a Maratona das Olimpíadas me motivou a repetir o estudo. Calculei 30 corredores compondo o pelotão de elite 
na linha de largada, formado essencialmente de brasileiros e alguns quenianos. Atrás deles outros 19 mil corredores em busca de superação. Bateu uma nostalgia, pois ano passado eu estava lá curtindo muito aquilo tudo. Eu esperava uma transmissão a altura, principalmente por ter visto há poucos dias a Maratona Olímpica, mas para minha frustração não houve apresentação do pelotão de elite, apesar desta emissora há anos transmitir corridas de monopostos e saber o quão importante é apresentar os corredores. Não havia legenda mostrando o melhor tempo de cada corredor para aquela distância, apesar de na corrida de monopostos ela cansativamente mostrar volta a volta o melhor tempo dos corredores. A largada ocorrera e ao contrário do que assisti na Olimpíada, não era possível acompanhar tempo e distância ao vivo, apesar destes dois indicadores serem de suma importância para compreensão do que estava acontecendo.
Na subida da Avenida Niemeyer um brasileiro resolveu assumir a ponta, mas enquanto o pelotão iniciava a perseguição a transmissão foi cortada para exibir a largada do pelotão geral. Quando a imagem retornou, o pelotão já havia engolido o incauto corredor. Eles passavam pelo Vidigal e percebi que dos trinta corredores que largaram no pelotão de elite, pelo dez haviam ficado para trás. Novo corte para exibir a orla e mais um bocado do pelotão geral. Não vi meus amigos e não estava vendo a corrida. O narrador falava sobre as belezas naturais do Rio, quando retornaram as imagens da corrida. Ipanema já estava quase no fim, mas a única informação que a emissora disponibilizou foi a velocidade dos corredores e a previsão de término da prova. Não sei se querendo mostrar que haviam chances do recorde ser batido, ou para os telespectadores que não gostam de corrida se organizarem para assistirem o próximo programa da grade da emissora.
Aquela altura, o grupo que liderava a prova já possuía menos de dez corredores e mantinha um pace de 2’51”/Km (doideira!). Graças ao comentarista, soube que os 10 Km foram vencidos em 28’30” (duvido que tenha sido redondo, mas isso é o de menos), um ritmo impressionante. Se nada mudasse, o recorde da prova seria pulverizado. Melhor, até o recorde brasileiro do Marilson corria risco de ser superado. Quando comecei a pegar gosto pela corrida, novo corte. Desta vez foi um intervalo. Um intervalo mesmo. Propagandas dominicais. Na volta, um sobrevôo de helicóptero, mais conversa, flashes da queniana que liderou a prova toda sem ser ameaçada e finalmente eles voltaram para a corrida masculina. O pelotão se desmontara. Agora eram apenas quatro quenianos. O ritmo caira um pouco. Agora eles corriam a 18 Km/h. Eu já havia desistido de entender qualquer coisa. Novo corte para a chegada feminina que durou uns 10 minutos. A emoção estava em acompanhar os últimos 10 minutos de corrida da queniana, pois as chances de bater o recorde da prova eram reais. Apenas um flash de dois quenianos brigando pela prova, um terceiro em perseguição e mais nada. Apenas depois que a queniana venceu e bateu o recorde feminino da prova as atenções retornaram para os dois quenianos que disputavam a vitória. O Loyanae venceu e ficou a menos de vinte segundos do recorde. Em segundo ficou Korir, que segundo o narrador frequenta o circuito de corridas brasileiro há algum tempo, mas o tempo da prova ele teve dificuldades para informar. Como o cinegrafista fez um close nos quenianos, ele não conseguiu ver o tempo no relógio oficial através do monitor. Possivelmente ele estava narrando do estúdio sem apoio técnico.
Chato mesmo foi não conseguir assistir o Solonei e o Giovani superarem os outros quenianos e chegarem em terceiro e quanto lugares. Chato foi só entender no final que os grandes corredores são fruto das equipes do Pinheiros, Cruzeiro e Pé de Vento. Chato foi não assistir a corrida como deveria ser. Como material de turismo, achei muito legal, pois as imagens aéreas eram belas. O Rio é lindo. Tão lindo que colocaram uma corrida nele. Pena que não transmitiram como um evento esportivo. Como uma corrida.
Depois do intervalo, não houve hino, não houve pódio, não houve champagne. Houve o próximo programa da grade da emissora.

Comentários

  1. É verdade, André. Infelizmente o esporte atletismo não está integrado na nossa cultura. Temos muito que evoluir ainda nesse quesito.
    Espero um dia podermos ver uma transmissão realmente bem feita...
    abraço,
    Sergio
    corredorfeliz.blogspot.com

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    Respostas
    1. Sérgio, meu amigo.
      Tudo é costume. Quem sabe um dia? Mesmo na TV a cabo as maratonas são compactos.
      Se os investimentos nos esportes individuais (diz-se mais medalhas que os esportes coletivos) forem realizados e uma estratégia combinada com as emissoras, poderemos fortalecer os ídolos e despertar o interesse do povo por algo além do futebol. O resto é efeito colateral.
      O que me impressiona é como esta gente não percebe que diversificando os investimentos (digo esportes), aumenta-se a possibilidade de gerar mais receita, já que tudo se resume a retorno financeiro.
      Mais uma vez, obrigado pela visita.
      Abraços,
      André

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  2. Concordo integralmente com tuas observações. Assisti a transmissão e com exceção dos comentários do Lauter (que também se equivocou umas duas vezes) o tom geral foi lamentável. Com todo respeito ao André Domingues, velocista dos bons, mas como comentarista de atletismo uma negação. E o Zé Roberto, uma bela voz sem dúvida, mas não manja nada de corrida.

    Na verdade não sei se há motivos para comemorar a transmissão da Meia Internacional pela Globo. É só por isso que a largada é tão tarde (9:00!!). Talvez fosse melhor não ter a transmissão (que de tão ruim não deixa saudades) e largar em horário decente. Não vejo espaço para provas longas de rua na TV aberta. A esperança é que os canais fechados transmitam, mas até ali é muito raro.

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    Respostas
    1. Roberson,
      Primeiramente, obrigado pela visita neste humilde espaço dedicado a corrida.
      Esta semana eu estava lendo no livro TRANSFORMANDO SUOR EM OURO, do Bernardinho, a seguinte frase: "Gênio é 1% de inspiração e 99% transpiração. Acho que a inspiração já foi alcançada, mas ainda há muito que se transpirar para que a corrida seja (bem) vista e traga audiência. Hoje a transmissão é um belo convite a sair do sedentarismo, ou incentivar a corrida como complemento turístico (ou vice-versa). Mas como objeto de competição para estudo e aprendizado, precisa de melhorias. Basta olhar para a maratona olímpica. Não teve nada demais e funcionou muito bem. Revendo a prova pelo Portal do Terra, mesmo sem narração é possível acompanhar a trama.
      Abraço e boas passadas!
      André

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