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Golden Four Asics RIO 2012: fantástica uma vez mais

PRÓLOGO
O final de semana da corrida começou cedo. Talvez pela ansiedade de pegar logo o kit, ou pelo desejo de visitar os estandes sem ter que enfrentar filas.
Usar o centro de convenção do antigo Hotel Internacional em São Conrado foi uma boa escolha. O amplo espaço facilitou a distribuição dos estandes e a circulação. A coisa estava de tal forma impecável que em menos de cinco minutos eu já estava com o kit. Corri para a massagem, pois desta vez não deixaria de fazê-la por causa de grandes filas. O Carlos Magno, meu jovem amigo ligeirinho fez o mesmo antes de descobrir o lanche gratuito. Eu ainda curti uma sessão de eletroestimulação para relaxar a musculatura da coxa e por fim um aparelho que massageava as panturrilhas. De corpo e alma refertos, fui conhecer o resto dos estandes. A coisa toda pode ser feita sem pressa, pois eu estava com meu filho e minha mãe também. Fiquei muito feliz por compartilhar mais esta parte de minha vida com eles. O Carlos Magno também entrou na bagunça e deu o iogurte que ganhara para o serelepe e faminto rebento. A visita a loja da Asics encerrou o passeio, mas não o sábado. Mais tarde eu, minha esposa e o rebento fomos visitar nossa amiga em um imperdível sarau com pianistas. A música e as discussões extra-corrida ajudaram a controlar a ansiedade até às nove da noite, quando nos despedimos e seguimos para casa.

MOMENTOS ANTES
Carlos Magno (de verde) e o Bruno (a direita)
Foi uma boa noite de sono. Sem interrupções. Rapidamente me arrumei e segui para o ponto de encontro da van. Tudo realmente ficara mais fácil por ter deixado tudo separado na noite anterior. A viagem foi tranquila e tive chance de conhecer alguns bons corredores. O Bruno, além de corredor e triatleta, também é treinador. Ouvir seus causos foi interessante. Informação é o que nos faz melhor nesta jornada de auto-conhecimento.
Chegamos ao ponto de largada faltando meia hora para a largada. Foi tempo suficiente para realizar um aquecimento tranquilo com o Carlos Magno, desejar-lhe boa sorte e seguir para a zona roxa. Baia para quem iria seguir o coelho, ou melhor, os dois coelhos que manteriam um ritmo para concluir a prova em duas horas. Tudo muito bem organizado, assim como no ano passado. O deja vu foi tamanho que pensei no pelotão que foi formado em 2011. Liguei para o Sérgio para lhe desejar boa sorte, mas ele não iria correr. Lindemberg estava mais a frente, pois entrara no grupo dos ligeirinhos junto com o Carlos Magno. Então o jeito foi mandar um torpedo para ele também. Dessa vez a corrida seria solo. A pilha era tão grande que só lembrei do MP3 tarde demais, há poucos minutos da largada. Desencanei, afinal eu estava acostumado a treinar sem música.
Quando a locutora anunciou que faltava um minuto para largada, tirei uma última foto, preparei o Runkeeper e mentalizei a estratégia: marcar quatro tiros de cinco quilômetros e fechar a prova do jeito que desse. Eu sabia que tinha que correr cada um dos trechos em vinte oito minutos para terminar a prova abaixo de duas horas.

A CORRIDA
Assim como ano passado a largada foi tranquila, mas intensa. A onda humana se movimentava uniformemente, mostrando que a largada por pace funcionara uma vez mais. O equilíbrio técnico dos participantes era tamanho que não houve aquele clássico trânsito na largada. Os coelhos nos conduziram para fechar o primeiro quilômetro em 5’40” como previsto. Ao contrário de outras vezes em que dispensei o aquecimento, não senti a tradicional falta de ar. O pico de adrenalina antes da largada acordou o corpo, facilitando minha vida. Passamos o segundo quilômetro na boa e nada do pelotão dispersar, tanto que pegar água no primeiro posto de hidratação foi meio confuso, sobraram alguns empurrões para alcançar os copos. Infelizmente alguns novatos praticamente pararam atrapalhando algumas pessoas.
Refeito, aproveitei para curtir o visual. O barulho das ondas arrebentando transmitiam uma tranquilidade incrível. Nem parecia que estava correndo. Lutei em alguns momentos para me concentrar. Às vezes parecia que eu iria esquecer de respirar, ou simplesmente parar de correr para ficar babando com o visual. Preciso visitar aquela praia com minha esposa e filho. Eles vão adorar.
Ver um gel energético cair da cintura de um garota me trouxe de volta a corrida. Lamentei por ela, mas não tinha como parar para resgatar o sachê. Antes que eu pudesse avisá-la, um segundo caiu, mas desta vez ela percebera. Por reflexo ela simplesmente parou tornando a corrida quase uma prova de obstáculos, pois o pelotão ainda estava muito unido, próximo ao quarto quilômetro. Em seguida passamos por uma galera que transformara um quiosque em uma boate. Centenas de pessoas gritavam e dançavam ao som de trance music e a passagem em meio aquelas criaturas noturnas acabou renovando o ânimo. Alguns tentaram nos seguir, outras gritavam incentivando. Outros, completamente loucos, berravam “Cara, eles estão correndo! Eles estão correndo!”. Não deu para não rir, mas valeu pela renovada de ânimo.
Cinco quilômetros e o pelotão ainda estava reunido. Passamos com 28’11”. Zerei o cronômetro e falei: “só faltam mais três voltas”. Curiosamente alcançamos um grupo de corredores e o pelotão ficou ainda maior. A passagem pelo segundo posto de hidratação foi uma nova aventura. Simplesmente era inacreditável ver tanta gente reunida após seis quilômetros. Apenas a Golden Four para ter isso. Na Meia da Caixa e da Internacional do Rio não vivi este aperto. Perdi um pouco o compasso, mas fiquei tranquilo quando um dos coelhos tentava alcançar seu parceiro. 
O pelotão que alcançamos era composto por vários integrantes de uma assessoria esportiva. Eles vestiam uma camiseta vermelha e eram mulheres em sua maioria. Curiosamente uma das cinco mulheres era muito agitada. Ela trocava de lado no paredão feminino com muita frequência, atrapalhando e distraindo várias pessoas no pelotão. Segui envolvido com aquela esquisitice até que percebi a placa dos dez quilômetros. Fechamos a “volta” com 27’ alto. Um pouco mais rápido que o necessário, mas na boa. Porém a moleza acabara após o posto de hidratação do quilômetro doze. Depois de nova troca de esbarrões para pegar a água percebi que os coelhos aceleraram. O pelotão foi junto, mas o grupo de vermelho debatia sobre os motivos para o pace em torno de 5’25”. Reclamavam do excesso de velocidade. “Eles estão compensando o tempo que perderemos no viaduto”, eu disse a mulher ao meu lado. Ela respondera que não conseguiria manter aquele ritmo por muito tempo. Estava próximo do seu limiar. Do outro lado, um treinador seguia sua aluna com uma bicicleta. Ele tentava mantê-la motivada e pedindo para permanecer no pelotão para não ficar de cara para o vento. Eu não tinha me tocado do fato até então, mas estava ventando. Aproveitei para ajustar minha posição no pelotão e me proteger ainda mais do vento.
O ritmo continuou forte. Acabei perdendo a placa do quilômetro quinze em meio a tentativa de pegar o isotônico e o novo posto de hidratação que veio logo em seguida. O jeito foi zerar o cronômetro quando passamos pela placa do quilêmetro dezesseis e pensei: “Só faltam mais vinte oito minutos!”. Aquela altura eu já perguntava a quantas andava minha frequência cardíaca. A respiração estava difícil com o forte ritmo imposto pelos coelhos. Fiquei com medo de olhar o Polar e intuitivamente reduzir meu ritmo. Me esforcei para ignorar o monitor, mas era fato que não conseguiria acompanhá-los muito mais tempo. Lutando para me manter próximo aos coelhos não tinha percebido que o pelotão havia se desmantelado. Éramos pouco mais de doze corredores antes sairmos da praia em direção ao viaduto. Os coelhos seguiam a uns quinze metros a minha frente e os assisti desaparecerem na subida do elevado. Lembrei do Sérgio me “puxando” ano passado para buscar forças para enfrentar aquele aclive. Mirei em alguém mais a frente e tentei acompanhar o cara. PUF PUF PUF. Passei! E agora. Aquele outro. Cadê o oxigênio? Caramba, isso não vai acabar? Mais um! Aquela moça. Bora. Olha lá o túnel. Cadê o ar?!? @#%$@#@#$@ Tá F... Mais um pouco. Ufa! Acabou. Após a desgastante subida havia o último posto de hidratação no quilômetro dezoito. Depois dele precisei de alguns minutos para me refazer daquela subida de pouco mais um quilômetro e aproveitar a decida para recuperar o tempo perdido. Pelas contas, eu ainda tinha vantagem para terminar a prova abaixo de duas horas, mas não era muita.
Quando sai do túnel em São Conrado eu sabia que estava acabando. Era encontrar o que sobrara da energia e sentar o pé. Na última curva, quando entrei na praia o sorriso se abriu e o cansaço foi perdendo força. Era o sprint final para terminar minha quarta meia maratona abaixo de duas horas. Mais precisamente 01:58:21. Pensei em jeito melhor do que este para se comemorar dois anos e quatro meses de corrida de rua. Eu ofereci dedicação e o destino me presenteou com vida! Muito obrigado!!!
Carlos Magno me parabenizou. Em seguida o Lindemberg. Depois de um breve bate-papo e medalha no peito, a turma se reuniu para pegar a van de volta para casa. Ali mais um ciclo se encerrara. Eu estava refeito, vitorioso sob uma grave lesão e ainda comemorando ter concluído a prova com um tempo melhor do que o ano passado (01:59:30). 
Clique na foto para ampliar

EPÍLOGO
Acabei não mencionando, mas utilizei o Ironman Gel nos quilômetros sete e catorze. Eles foram cruciais na reposição energética e consequentemente para manter o ritmo. Outro ponto importante foi a hidratação. Praticamente foram dois copos a cada posto. Um para beber e outro para refrescar o corpo.
A temperatura na largada estava na casa dos 20 graus e na chegada por volta dos 23 graus. Não foi dureza, mas o calor se fez sentir no trecho final.

Os planos para o segundo semestre são mais modestos. Na mesma proporção que a temperatura vai subir, eu pretendo correr distâncias menores. Penso em fazer um treino específico para ganhar velocidade e correr os 5K da Track & Field Run Series em outubro. Quem sabe? É uma boa pedida, mas só vou vou pensar nisso após uma inteira e merecida semana de descanso.

Comentários

  1. Parabéns, meu amigo, por mais essa conquista! o relato está ótimo, foi possível sentir como se estivéssemos lá...
    Grande abraço,
    Sergio
    corredorfeliz.blogspot.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, meu amigo. Fiquei com cara de banana quando percebi que você estava em casa :-)

      Espero que o passeio tenha sido maneiro.

      Abs

      André

      Excluir
  2. Oi André! Adorei o post.Vou fazer minha primeira meia maratona neste domingo e estou na maior ansiedade. Espero poder assim como você concluir bem.
    Abraços!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Alessandra,
      Obrigado pela visita. Adorei seu blog, mas nas últimas semanas foi uma loucura concluir o ciclo de treinos e manter a leitura.
      Tenho certeza de que conseguirá realizar uma ótima corrida, se mantiver o esforço dentro do que você treinou.
      Você é rápida e tem treinado bons longões. Não há com o que se preocupar, pois a corrida é o esporte mais honesto do mundo. Ela lhe dá o que você treinou.
      Aposto que você terminará a corrida abaixo de 1h50 :-)
      Boa prova!
      André

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