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No sufoco

Nos últimos dias estive pensando no filme Superman Returns para ilustrar este post. O nosso velho e conhecido personagem repleto de super poderes era reduzido a nada quando em contato com aquela pedra verde chamada Kryptonita. Algo inofensivo para muitos, mas para ele praticamente a cor da sentença de morte. Foi difícil não fazer associação a minha alergia a poeira, que para a maioria da população remete apenas a falta de limpeza. Minha história tem como base os muitos finais felizes criados pelos autores das aventuras, que de algum jeito ajudavam este herói a encontrar uma maneira de se safar quando sua fraqueza vinha a tona. Tudo isso para dizer que enfrentei mais um final de semana com dificuldade para respirar e o treino da manhã de segunda, cancelado.
O problema com a bronquite, digo asma, termo correto segundo a Doutora que me atendeu na última segunda, fugiu ao controle. A "bombinha" não foi suficiente para coibir a crise. Eu sabia que uma nebulização talvez ajudasse no curto prazo, mas não resolveria o problema maior, controlar o agente catalizador das crises: minha alergia. Seguindo meu instinto, procurei uma clínica de pneumologia com especialização em alergias respiratórias.
Foi uma quebra de paradigma, pois os muitos exames e tratamentos que me submeti até os 16 anos de nada adiantaram e, mesmo praticando atividades físicas, sofri com crises agudíssimas até os 25. Talvez enjoada de me arrebentar, as crises perderam intensidade e frequência. Foram assombrar outro. Mas a trégua acabou este ano e o receio de não conseguir correr se tornou real. Não conseguia enxergar alternativas e o inconformismo bateu. Como todo bom virginiano eu entrei em um transe Mentat (alguém leu o conto de ficção Duna?) e comecei a rever as linhas de causa e efeito que cercam este meu velho problema, até que cheguei a uma teoria. Se a medicina evoluiu em tantas áreas, por que não no tratamento da asma e dos processos alérgicos? Eu precisava acreditar que havia alguma chance. Que algo poderia ter sido desenvolvido e baseando-me nesta teoria me permiti tentar uma vez mais tentar vencer esta fraqueza.
Assim fui. A consulta foi longa. A doutora foi detalhista e por fim anunciou uma estratégia para atacar o processo alérgico, catalizador de todas as crises. Ela falou exatamente o que eu queria ouvir, até que sugeriu duas semanas longe dos treinos para reverter o processo inflamatório. Sei que o conservadorismo não foi desmedido, neste mundo em que tudo vira processo judicial. Porém, eu sabia que a crise não era das piores, pelo contrário. Em uma escala de 1 a 5, classifico como de nível 1. Ela receitou alguns remédios e exames, sendo que saí medicado com as amostras que ela possuía. A bombinha foi aposentada e em seu lugar entraram outros medicamentos.
Passavam das duas da tarde quando ela me instruía a usar um dos remédios. Uma hora depois eu já havia esquecido que eu estava no sufoco. Eu respirava normalmente sem dificuldade. O dia terminou, fui para casa e nada. Estava me sentido ótimo, tanto que não resisti, calcei o tênis e fui para a rua fazer meu primeiro treino noturno em muito tempo. Jurei que se identificasse qualquer alteração na minha frequência cardíaca, eu pararia. 
Para minha felicidade não tive problemas, pelo contrário. Fiz um dos melhores treinos intervalados desde que comecei a correr. O foco era muito grande. A atenção a técnica, a cadência das passadas, a respiração 3 por 3 e a pisada com a planta do pé realizada com muita dedicação. A crise talvez tenha despertado um sentimento de perda, que eu não estava pronto para aceitar. Corri como se aquele fosse meu último treino. O melhor treino. Naquela segunda eu percebi que correr ultrapassara a fronteira da simples rotina para cuidar da saúde. Ela passou a integrar o hall das coisas que mais gosto de fazer na vida.
Todo surfista diz que a melhor onda foi a última. Roubando a velha frase para meu mundo, posso dizer que a melhor corrida, mesmo tendo sido um treino, foi a última. Esse foi o sentimento na segunda e o hoje cedo.


TREINOS EDUCATIVOS
Uma das coisas que considero mais importantes nos treinos é o foco na técnica. Tentar desenvolvê-la em condições controladas é a melhor alternativa para ganharmos performance nas provas. Como foi bem dito na coluna OXIGÊNIO da Revista Runners deste mês, correr é uma sequência de pequenos pulos, onde o tempo que você fica suspenso no ar é o que você não consome energia. Perseguir uma pisada que solicite menos contato com o solo é buscar uma maneira de se cansar menos com o ato de correr e por conseguinte melhorar o desempenho.
A missão é ingrata, pois apenas um corpo forte tem condições de realizar os movimentos com precisão. Por isso é que com o passar dos treinos (e não apenas do tempo) suas marcas caem progressivamente. Não tem jeito. Tem que ralar o tênis no asfalto, ou na esteira, meu amigo(a). A missão é condicionar o corpo ao esforço.
Talvez com o tempo surja um desejo cada vez mais forte de melhorar marcas e desempenho, que lhe faça encontrar tempo nessa apertada agenda da vida para incluir mais treinos e musculação. Se não for seu caso, ótimo também. Correr por si só já nos faz melhores, mais fortes e mais saudáveis.


DIÁRIO DE UMA MEIA MARATONA - TREINO DE TIROS
Depois de uma semana tranquila, a planilha da O2 veio recheada com intervalados de alta intensidade. O primeiro treino foi composto uma série de 12 tiros de 3 minutos com 2 minutos para recuperação. O segundo treino teve a mesma quantidade de repetições, porém os tiros foram de 5 minutos com apenas 1 minuto de recuperação. Confesso que eu nunca havia treinado neste nível de intensidade. Cheguei a achar que não concluiria os treinos.
Tentando redescobrir um bom ritmo, o esforço foi para me desligar do Polar e realizar os tiros em uma intensidade que eu considerasse confortável (para uma corrida forte). Limitei-me a conferir a FCM ao final dos tiros para ter certeza de que havia extrapolado os 85% da FCM. Como a busca era o aperfeiçoamento, fiz o possível para focar na pisada, trabalhar mais a aterrissagem com a planta do pé. Mas nos primeiros tiros eu já começava a ter noção do meu desafio e do esforço que a panturrilha sofreria.
Fonte: OGLOBO BLOGS
A reportagem da Revista Runners detalhou com maestria como economizar energia na pisada e ganhar velocidade, mas a execução, digo, manter a técnica foi muito difícil. Minha panturrilha ardia como se nunca tivesse sido trabalhada. O esforço dos treinos em escada pareceram ridículos diante desta nova forma de pisar no chão, mas valeu muito a pena. Foi interessante perceber que a nova pisada induz a uma corrida mais intensa, rápida e de passadas mais alongadas. Frequentemente eu tinha que lutar para reduzir o ritmo, pois não precisava de tanta intensidade (além do medo de quebrar no meio do treino). Parecia que eu tentava remar contra a maré. Os resultados registrados no Runkeeper me surpreenderam. Os tiros foram praticados em pace inferior a 5'00", sendo que o melhor tiro do primeiro treino feito em 4'39" e do segundo em 4'49". Os números mostram que existem reais chances de uma nova Asics Golden Four Sub-2h, mas tento não alimentar expectativas. Estou me divertindo com a reconquista da boa forma e da condição de corrida.
Boas passadas!

Comentários

  1. André,
    Fico feliz que esteja encontrando o caminho para se livrar das alergias e da asma. Tomara que tudo dê certo.

    A corrida é um vício muito bom, não é mesmo!

    É uma pena que não estejamos na mesma prova. Eu vou na Meia da Caixa, até porque vai me dar vaga na maratona do ano que vem!

    abraço,
    Sergio
    corredorfeliz.blogspot.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Verdade! Recebi o informativo de que poderia correr a Maratona gratuitamente este ano. Seria lindo se estivesse em forma, mas a vida tem dessas coisas. Mas me tornei um LOUCO por corrida... não dá mais para parar.

      Quanto ao tratamento, no curto prazo impressionou! "Desentupiu" tudo :-) Agora é ver como a coisa fica no longo prazo.

      Obrigado pela visita. Vamos marcar um almoço com o Leandro!

      Abs

      André

      Excluir
  2. Olá André,

    É difícil ter que lidar com problemas que não dependem só da gente, mas tenho certeza que você supera essas crises de asma.

    Obrigado pela visita no meu blog

    Um abraço
    Guilherme
    www.corrervicia.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A corrida me fez mais forte, Guilherme. Nas crises mais agudas eu não conseguia me manter de pé. Outro dia, mesmo com falta de ar fui dar uma "voltinha" de 5K sem muitos transtornos.

      O tratamento alérgico que iniciei esta semana me colocou em uma condição fantástica. Vivo como se não tivesse absolutamente nada. No curto prazo está sendo ótimo, mas estou esperando com cautela os resultados de longo prazo.

      Obrigado pela força.

      André

      Excluir

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