Durante todos esses anos eu nunca havia parado para assistir a prova de encerramento de uma olimpíada. Até pouco tempo correr era algo improvável em minha vida. Eu reclamava para andar no shopping, imagine correr quilômetros a fio.
As coisas mudaram. Me tornei um corredor e queria entender a trama deste evento que encerra o maior dos eventos. Depois de pesquisar um bocado, eu fiquei com a impressão de que a maioria dos corredores classificados para correr a Maratona Olímpica fizeram com o tempo em torno de 2 horas e 9 minutos. Só tinham que combinar com alguns africanos para a corrida não ficar sem graça, visto que os 29 melhores tempos de 2012 pertenciam a eles. Depois deles, o Marilson, com a infeliz missão de alcançar alguns daqueles africanos que tinham o tempo 3 minutos melhor do que ele. Em meio a estes pensamentos o pelotão alinhou e largou. Eu não tinha certeza de quantos corredores haviam largado. Pelo menos cinqüenta compunham aquela massa humana que fechou o primeiro quilômetro com 3'12"!
O ritmo ficou ainda mais intenso e no Km 3 já haviam dois pelotões distintos. O primeiro grupo tinha uns 30 corredores que passaram com 9'01". Isto é, correndo com um pace abaixo de 3'/Km (loucura total).
O pelotão continuou abrindo vantagem ao grupo de perseguição, mas a intensidade diminuira. No Km 8 eles passaram com 24'42", pace de 3'05"/Km, e o Frank Caldera puxou o ritmo e abriu uns 10 metros de frente. Mas a vantagem durou pouco, pois o pelotão foi atrás e o engoliu. Ele ainda tentou uma segunda vez e fracassou novamente. Talvez sua tentativa de desgarrar tenha antecipado o plano dos quenianos, pois o Kiprotich puxou o ritmo e foi embora. O pelotão tentou ir atrás e o resultado foi a desintegração do grupo de perseguição. Quatro quilômetros depois era o queniano liderando e um grupo de dez corredores que faziam o impossível para não deixar Kiprotich fugir da vista. O resto dos 30 corredores foi perdendo ritmo.
Kiprotich completou a metade do percurso em 63'15", pace de 2'59"/Km, e não dava sinais de que iria reduzir o ritmo. As desistências começaram e a corrida parecia definida. O queniano na frente, um grupo de três africanos continuava a perseguição, um pouco mais atrás vinha o Marilson, seguido pelo atual campeão mundial e atrás dele um americano. Os demais corredores ficaram para trás.
Kiprotich impunha um pace de 2'58"/Km até que no quilômetro 26 ele cometeu um erro. Ele, distraído, passou a frente do posto de hidratação dos quenianos. O técnico gritou por ele, que no susto voltou para pegar sua garrafa e retomar a corrida. Ele pagou caro pela quebra do ritmo, pois seu companheiro Kirui e seu xará de Uganda conseguiram alcançá-lo. Lá trás, Marilson ultrapassava o sul africano para assumir assim a quarta posição.
Eles já estavam no Km 32 quando passaram com 97'34", pace de 3'01"/Km. Sem explicação Kiprotich, o de Uganda, começou a ficar para trás. Um comentarista "seca pimenteira" comentava feliz sobre o muro do Km 30. Que o cara era especialista nas provas de 5 e 10 Km e que as chances dele quebrar era reais. Era o bronze do Marilson que estava em pauta, enquanto o brasileiro seguia quase 1 minuto atrás dos 3 africanos. Era visível a queda de ritmo do trio. Os quenianos achando que o corredor de Uganda estava entregue reduziram o ritmo junto com ele. Quando passaram no Km 37 o pace bateu 3'15"/Km!!! Praticamente um passeio para quem vinha virando abaixo dos 3'/Km. Porém ao chegar ao trecho das lojas, o atleta de Uganda partiu para a fuga. Ele montara um estratagema para conseguir arrancar no final. Ele confiava na sua velocidade para vencer a prova e não deu outra. Seu xará ainda esboçou uma reação, mas faltou velocidade... não foi cansaço. Uganda ganhava ali a primeira medalha de ouro em maratonas com o tempo de 132'17". Não foi recorde mundial, mas foi fantástico!
Marilson chegara em quinto. Paulo em oitavo e Caldera em décimo terceiro. A melhor participação brasileira em maratonas em todos os tempos! Para mim, uma aula de técnica e estratégia que mudou mais uma vez minha percepção e entendimento sobre um esporte julgado de simples.
VALE A PENA VER DE NOVO
Se você não conseguiu ver a prova, o site do Terra mantém o VT da prova. Clique aqui para ver a corrida novamente.
Assistir a uma prova tão dura e disputada é que me fez perceber o que o Vanderlei Cordeiro fizera em Athenas. Foi no wikipedia que encontrei informações de que o calor grego acabou com as pretensões dos africanos ( Paul Tergat e Mebrahtom Keflezighi eram os caras da hora) e o brasileiro foi embora. Fora das condições ideais o brasileiro sobrou... mas tinha um irlandês no seu caminho.
10.000 PAGEVIEWS
Gostaria de agradecer à vocês que passaram por aqui para usar um pouco do seu precioso tempo para curtir as palavras deste corredor blogueiro. Os contatos e reflexões que vocês me proporcionaram até aqui fizeram muita diferença. Mais uma vez MUITO OBRIGADO pela chance de conhecê-los.
As coisas mudaram. Me tornei um corredor e queria entender a trama deste evento que encerra o maior dos eventos. Depois de pesquisar um bocado, eu fiquei com a impressão de que a maioria dos corredores classificados para correr a Maratona Olímpica fizeram com o tempo em torno de 2 horas e 9 minutos. Só tinham que combinar com alguns africanos para a corrida não ficar sem graça, visto que os 29 melhores tempos de 2012 pertenciam a eles. Depois deles, o Marilson, com a infeliz missão de alcançar alguns daqueles africanos que tinham o tempo 3 minutos melhor do que ele. Em meio a estes pensamentos o pelotão alinhou e largou. Eu não tinha certeza de quantos corredores haviam largado. Pelo menos cinqüenta compunham aquela massa humana que fechou o primeiro quilômetro com 3'12"!
O ritmo ficou ainda mais intenso e no Km 3 já haviam dois pelotões distintos. O primeiro grupo tinha uns 30 corredores que passaram com 9'01". Isto é, correndo com um pace abaixo de 3'/Km (loucura total).
O pelotão continuou abrindo vantagem ao grupo de perseguição, mas a intensidade diminuira. No Km 8 eles passaram com 24'42", pace de 3'05"/Km, e o Frank Caldera puxou o ritmo e abriu uns 10 metros de frente. Mas a vantagem durou pouco, pois o pelotão foi atrás e o engoliu. Ele ainda tentou uma segunda vez e fracassou novamente. Talvez sua tentativa de desgarrar tenha antecipado o plano dos quenianos, pois o Kiprotich puxou o ritmo e foi embora. O pelotão tentou ir atrás e o resultado foi a desintegração do grupo de perseguição. Quatro quilômetros depois era o queniano liderando e um grupo de dez corredores que faziam o impossível para não deixar Kiprotich fugir da vista. O resto dos 30 corredores foi perdendo ritmo.
Kiprotich completou a metade do percurso em 63'15", pace de 2'59"/Km, e não dava sinais de que iria reduzir o ritmo. As desistências começaram e a corrida parecia definida. O queniano na frente, um grupo de três africanos continuava a perseguição, um pouco mais atrás vinha o Marilson, seguido pelo atual campeão mundial e atrás dele um americano. Os demais corredores ficaram para trás.
Kiprotich impunha um pace de 2'58"/Km até que no quilômetro 26 ele cometeu um erro. Ele, distraído, passou a frente do posto de hidratação dos quenianos. O técnico gritou por ele, que no susto voltou para pegar sua garrafa e retomar a corrida. Ele pagou caro pela quebra do ritmo, pois seu companheiro Kirui e seu xará de Uganda conseguiram alcançá-lo. Lá trás, Marilson ultrapassava o sul africano para assumir assim a quarta posição.
Eles já estavam no Km 32 quando passaram com 97'34", pace de 3'01"/Km. Sem explicação Kiprotich, o de Uganda, começou a ficar para trás. Um comentarista "seca pimenteira" comentava feliz sobre o muro do Km 30. Que o cara era especialista nas provas de 5 e 10 Km e que as chances dele quebrar era reais. Era o bronze do Marilson que estava em pauta, enquanto o brasileiro seguia quase 1 minuto atrás dos 3 africanos. Era visível a queda de ritmo do trio. Os quenianos achando que o corredor de Uganda estava entregue reduziram o ritmo junto com ele. Quando passaram no Km 37 o pace bateu 3'15"/Km!!! Praticamente um passeio para quem vinha virando abaixo dos 3'/Km. Porém ao chegar ao trecho das lojas, o atleta de Uganda partiu para a fuga. Ele montara um estratagema para conseguir arrancar no final. Ele confiava na sua velocidade para vencer a prova e não deu outra. Seu xará ainda esboçou uma reação, mas faltou velocidade... não foi cansaço. Uganda ganhava ali a primeira medalha de ouro em maratonas com o tempo de 132'17". Não foi recorde mundial, mas foi fantástico!
Marilson chegara em quinto. Paulo em oitavo e Caldera em décimo terceiro. A melhor participação brasileira em maratonas em todos os tempos! Para mim, uma aula de técnica e estratégia que mudou mais uma vez minha percepção e entendimento sobre um esporte julgado de simples.
VALE A PENA VER DE NOVO
Se você não conseguiu ver a prova, o site do Terra mantém o VT da prova. Clique aqui para ver a corrida novamente.
Assistir a uma prova tão dura e disputada é que me fez perceber o que o Vanderlei Cordeiro fizera em Athenas. Foi no wikipedia que encontrei informações de que o calor grego acabou com as pretensões dos africanos ( Paul Tergat e Mebrahtom Keflezighi eram os caras da hora) e o brasileiro foi embora. Fora das condições ideais o brasileiro sobrou... mas tinha um irlandês no seu caminho.
10.000 PAGEVIEWS
Gostaria de agradecer à vocês que passaram por aqui para usar um pouco do seu precioso tempo para curtir as palavras deste corredor blogueiro. Os contatos e reflexões que vocês me proporcionaram até aqui fizeram muita diferença. Mais uma vez MUITO OBRIGADO pela chance de conhecê-los.
Oi, André. Seu blog com certeza é muito inspirador. Nada mais merecido que os 10.000 pageviews. Sobre o post, tbem acompanhei a maratona olímpica. Foi emocionante. Fiquei na torcida pelo Marilson desde o começo. Concordo contigo quando dizes que foi a melhor participação brasileira.
ResponderExcluirUm abraço,
Helena
correndodebemcomavida.blogspot.com
@correndodebem
Obrigado, Helena.
ExcluirA idéia é realmente fomentar um novo pensamento. Criar um novo torcedor que não pense apenas no futebol.
Aprendi coisas simples, porém relevantes que me ajudaram a melhorar minha corrida. Entre as muitas observações posso dizer que assistir a corrida me ajudou a:
- Ajustar minha postura
- Me esforçar para pisar de forma mais neutra
- Testar limites e não depender do monitor cardíaco
Prometo visitar seu blog.
Boas passadas
http://andreeotenis.blogspot.com
Oi André!
ResponderExcluirTambém assisti a prova e gostei muito. Ficava só imaginando o que é correr com um pace em torno de 3/Km durante 42,195km, quando eu não consigo isso nem em 400mts,rsrs. Me surpreendeu o bom desempenho dos três brasileiros. Mas confesso que só lendo seu post de fato consegui compreender a estratégia usada pelo atleta de Uganda para vencer a prova. Uma pena que poucas provas sejam veiculadas pela televisão, por que como vc disse é "uma aula de técnica e estratégia".
Abraços!!
Oi, Alessandra.
ExcluirApesar de eu estar a uma galáxia distante deste nível e não sonhar com troféus e prêmios aqui no Rio, acho muito importante compreender "o jogo". Minha forma de correr já mudou!
A ESPN e a Bandsports eventualmente transmitem provas. Sei por acidente, mas pretendo acompanhá-las a partir de agora. Sabendo com antecedência tentarei veicular aqui no blog.
Mais uma vez, obrigado pela presença.
Boas passadas :-)
André