Pular para o conteúdo principal

Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro 2011 - Qual o seu limite?

Você já esteve no lugar certo, na hora certa e pronto para fazer a coisa certa? Pois é, foi mais ou menos o que aconteceu comigo no último domingo, quando corri a Meia Maratona Internacional do Rio.
O esquema de transporte que meu compadre Glaucio conseguiu com a assessoria esportiva que ele é filiado foi perfeito. Carlos também aproveitou a oportunidade e foi conosco no mesmo ônibus. Saímos perto das sete da manhã e sem transtornos chegamos em São Conrado. O brinde do Globo Esporte foi outra injeção de ânimo e o tempo nublado e chuvoso, com a temperatura em torno dos 18 graus, a cereja que faltava no bolo. Era o cenário perfeito para uma boa corrida.
Com tempo de sobra para a largada, deu tempo para uma conversa, esbarrar com alguns conhecidos e desejar uma boa corrida a alguns amigos, inclusive o Lindemberg. Depois do aperto que ele passou na prova Meia da Caixa, acho que ele foi o primeiro a chegar em São Conrado. Era tão cedo que nos posicionamos a pouco mais de vinte metros do pórtico de largada.
Por volta das sete e vinte segui para área reservada para os sorteados pelo Globo Esporte, junto com a elite C. Para tal, tive que dar uma baita volta no quarteirão, pois o cordão de isolamento era mantido por vários fiscais e pela polícia. Fora isso, não tive problemas. Deixei as coisas no guarda-volumes e segui em direção ao reservado. Pude curtir o aquecimento dos quenianos e quenianas, assistir a equipe de reportagem da Globo se preparando com o Tande para cobrir a prova. O Tande é um cara de jeito tranquilo e muito solícito. Elogiar um cara que sempre teve uma postura exemplar é ser prolixo. Já na área reservada trocamos breves comentários sobre a Corrida da Ponte e gentilmente ele posou para um foto com este fã, que muito jogou volei de quadra e na praia há alguns anos.
Foto de divulgação do globoesporte.com
Eu estava meio que em transe, pois era minha primeira vez em uma área vip. Nunca tive sorte com sorteios e o acaso realmente me presentou com aquele momento. Meio bobo eu assisti as filmagens, aos fotógrafos, as personalidades irem e virem por ali. Quase esqueci de procurar informações sobre a cobertura da prova, mas por causa de uma amiga blogueira, Myla Vitacchi, achei a foto e várias reportagens sobre a corrida. Em uma delas achei a foto acima. De repente a chuva apertou e obrigou todo mundo a se proteger debaixo da tenda. Aí tive o privilegio de conhecer a Sra. Vanessa Protasio. Foram poucas palavras que trocamos, mas para uma pessoa que há anos (muito anos mesmo) corre, ela trazia a motivação de uma debutante, fato que me deixou ainda mais pilhado para a prova. Correr realmente é um esporte para vida toda. A energia que conseguimos neste ambiente é difícil de explicar. Só quem tá ali consegue entender o que estou dizendo neste momento.
O frio e a chuva fina incomodavam, mas próximo da largada a garoa deu uma trégua e praticamente todo mundo resolveu fazer um aquecimento. Ainda deu para cuidar da hidratação e ingerir um energético antes da largada. Fiquei matutando sobre as possibilidades de manter um pace em torno de 5'30" e bater meu recorde pessoal. Afinal a temperatura estava baixa e não havia sol para minar minhas forças. Em meio a estes pensamentos esbarrei ainda com a Cláudia (um dia serei assim), que aproveitaria a prova como treino para suas maratonas. Instantes após tirarmos uma foto todo mundo saiu correndo. O locutor não anunciou a largada e a sirene falhou. Quase fomos engolidos pelos corredores do pelotão geral.
A largada. O ritmo inicial da prova foi forte, apesar do trecho em subida. Os primeiros quilômetros foram com o pace próximo de 5'00"/Km, fato que me preocupara. Sabia que o ritmo era insustentável, mas só tomei as rédeas da corrida quando cheguei em Ipanema. O Runkeeper anunciava um pace de 5'07"/Km de média quando alcancei o Km 5 e comecei a trabalhar o ritmo baseado na frequência cardíaca. Desacelerei até diminuir o ritmo para 90% da FCM. Mas o desafio não seria tão simples de se vencer. Eu comecei a sentir uma dor no posterior da perna direita, que aumentava vagarosamente a cada quilômetro. Cheguei a pensar que se tratava de um estiramento, ou algo do gênero, mas se fosse eu com certeza não estaria em pé. Me concentrei na respiração para espantar os fantasmas e a idéia de desistir da prova.
Quando alcancei o segundo posto de hidratação no Km 7.5 eu já havia sido ultrapassado por um índio devidamente paramentado, o the flash de macacão preto e pelo Carlinhos, que freqüentemente encontro nos treinos na orla de São Francisco, mantendo um pace abaixo de 5'00"/Km. Apesar da temperatura baixa, eu estava preocupado com a hidratação e em evitar o super aquecimento do corpo. Eram dois copos d'água a cada ponto de hidratação. Derramava um copo na cabeça e o outro eu bebia para aplacar a sede. A estratégia deu certo na Golden Four e na Meia da Caixa. Não seria diferente desta vez. Recuperei energia e motivação para mais três quilômetros.
Ao passar pela placa do Km 8 percebi que estava dois minutos mais rápido que os 44' planejados. Fiz as contas e percebi que poderia baixar o ritmo e mesmo assim bater meu recorde pessoal. Durante um tempo me distraí com estes pensamentos, mas a dor na perna teimava gradualmente em aumentar. Reduzir também seria uma forma de evitar que a dor piorasse.
A dor continuou presente e meu receio de me lesionar me assombrava, minando minha confiança. Fez com que a orla de Copacabana parecesse nunca acabar, até que o trecho a partir da Rua Figueiredo Magalhães foi abraçado pela vizinhança, que nos incentivava a continuar correndo. Na altura do Palace Hotel havia um arco com um spray d'água e uma multidão a gritar com cartazes. Peguei um pouco daquela energia para seguir em frente e entrar na Avenida Princesa Isabel. Senti falta da banda militar tocando a trilha do filme Rocky (lembrança da Meia da Caixa), mas a lembrança me trouxe forças. Passamos o túnel, o Rio Sul e chegamos ao Aterro, onde encontramos o ponto de hidratação com isotônico. Ânimo e tristeza vieram, pois eu precisava do Gatorade aquela altura,  mas isso significava também que faltavam mais uns 7 quilômetros para completar a prova. O curvão da Glória foi um teste mental,  pois quando passava pela placa do Km 15 do outro lado da avenida o queniano recebia a premiação. 
Dor, mas faltava pouco e eu mantivera até agora aqueles 2 minutos de vantagem do início da prova.
Carlos, compadre Glaucio e Eu após 21 Km.
Apesar da vantagem foi um teste de força de vontade correr até a frente do Monumento dos Praçinhas e retornar. A dor já afetava a concentração, mas eu sabia que se parasse de correr mancaria até a chegada, pois as ambulâncias ficaram para aquelas bandas. Eram pouco mais de 3 Km. Eram menos de 20 minutos correndo. Mancando seria mais que o dobro deste tempo. Contei com outros dois pontos de hidratação para manter o ritmo e fechar a prova com 01:54:58. Novo recorde pessoal. 4'31" mais rápido que meu tempo na Meia da Caixa. Era um misto de felicidade e dor. Manquei até a medalha, depois ao lanche e para o estande do Globo Esporte sonhando com uma massagem. Tentei até esperar,  mas estava muito grande a fila. Assim que cansei de comer, segui para a tenda em que o Glaucio e Cia se encontraram. Por ironia do destino uma ambulância estava estacionada ao lado da tenda. Antes mesmo de falar com a galera fui até ela e pedi ajuda para controlar a dor. Pouco depois eu já conseguia me mover quase normalmente. O suficiente para conversar sobre a prova com os amigos, antes de seguirmos para o ônibus e retornarmos para Niterói. Foi ótimo rever os amigos, participar de algo tão grandioso e ter o privilégio de conhecer as personalidades, muito humildes e pacientes com todos que chegavam até elas para conversar e tirar fotos.
Novidades da web. O site webrun.com.br me presenteou com um vídeo da minha chegada. Mais uma daquelas coisas que ganhamos, guardamos e usamos para nos motivar em momentos de adversidade. Gostaria de compartilhar com você este histórico momento de conquista pessoal. Chego de braços abertos e punhos cerrados quando o vídeo estiver com 25 segundos.


A recuperação. Precisei de praticamente toda a semana para me recuperar e parar de sentir dores. Preferi não treinar, mas a dor no quadril estava muito intensa. Procurei caminhar bastante para auxiliar na desintoxicação da musuculatura. Apesar das distância não serem muito significativas, o exercício ajudou realmente na recuperação. Glaucio e Lindemberg reclamaram da mesma coisa. Parece que aquele tempo frio nos tentou além da conta a correr em uma ritmo muito forte. Tanto que todos melhoraram o tempo pessoal. Destaque para o Carlos, que completou a prova em 1 hora e 33 minutos!
Devo retornar aos treinos na segunda-feira, já visando a Adidas Primavera. Como todo bom competidor, sonho em finalmente baixar dos 50'. Vamos ver, pois sei que não será uma tarefa fácil.

Comentários

  1. Parabéns pela prova e pelo tempo de 1h54'...

    Abs

    Fábio
    www.42afrente@blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. André,
    que maravilha, amigo! ótimo tempo! e a experiência de ser sorteado deve ter sido ótima...
    Agora veja o que é a contusão, para não agravar. Curiosamente a minha também é na parte posterior da perna direita e estou de molho. Mas espero que não seja nada e possa logo retornar aos treinos!
    abraço,
    Sergio
    corredorfeliz.blogspot.com

    ResponderExcluir
  3. Obrigado pela força, meu amigo.
    Hoje estou melhor, mas realmente preciso de um check up. Estou a procura de um bom ortopedista no centro do Rio. Estou aberto para recomendações.
    Forte abraço.

    ResponderExcluir
  4. Rapaz, você poderia ter jogado volei heim. Quase da mesma altura do Tande. Ouvi dizer que ele morreu na prova. :-)
    Abs.

    ResponderExcluir
  5. Mas eu "brinquei" durante muitos anos da praia e na quadra. Foi um bom hobby junto com o basquete e a natação.
    Quanto ao Tande, ele confessou em rede nacional que a chapa esquentou. Veja o vídeo em http://video.globo.com/Videos/Player/Esportes/0,,GIM1491780-7824-TANDE+ENCARA+O+DESAFIO+DE+COMPLETAR+A+CORRIDA+DA+PONTE+RIONITEROI,00.html.
    Forte abraço.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigado por você passar por aqui.
Deixei sua opinião ou comentário sobre o tema. Uma boa conversa é sempre salutar.
Boas passadas!

Postagens mais visitadas deste blog

WR, OR, PB, SB. Você sabe o significado dessas siglas?

Assistindo as olimpíadas eu eventualmente observava a sigla PB ou SB ao lado do nome de alguns atletas após as provas. Hoje descobri o que significava ao ouvir o podcast Correria, do mestre Sérgio Xavier Filho (@sergioxavierfilho), minha fonte de inspiração desde os tempos da Revista Runners. PB: Personal Best. No bom português, seria melhor resultado pessoal. SB: Season Best. Melhor resultado do ano. Resolvi levantar o tema, pois como bom desportista a competição corre em nossas veias e a primeira disputa a ser vencida é contra nós mesmos. A superação é o que nos move, por isso testamos nossos limites. Não tenho a intenção de comparar o que eu estou fazendo (SB 29'20") com o que fiz há quase dez anos (PB 24'10"), mas descobrir se estou evoluindo no atual ciclo de treinos. O primeiro ciclo me permitiu correr 5K em 30'04" e o segundo em 29'20". A expectativa é de que a evolução continue acontecendo. A nova planilha está recheada de tempo runs e interv

Curta o caminho

Hoje concluí a sétima semana de treinos do II Desafio 5K. A oitava e derradeira semana começará com um treino de tiros na terça, em seguida um treino de ritmo moderado na quinta e encerro o desafio com minha prova imaginária de 5K no próximo sábado. Esta reta final sempre me leva a refletir sobre a jornb ada que foi realizada. Muita coisa boa aconteceu nestas quase vinte semanas de treinos. Recoloquei a corrida como rotina matinal às terças, quintas e sábados. Voltei a pensar, ler e falar sobre corria e saúde. E acima de tudo ter vencido a lesão da panturrilha direita, que foi crucial para esta sensação de bem estar que se expande do corpo para mente e para o espírito. Poder testemunhar a alvorada, uma das maiores obras primas que Deus nos presenteou, é assistir a vida se renovando. Nossa nova chance de fazer a diferença, acima de tudo para si e de alguma forma para quem nos cerca.  A corrida de rua de nos levar levar a caminhos que nunca imaginamos. A ver o mundo de uma perspectiva be

Você é um corredor iniciante, intermediário ou avançado?

A Runners de fevereiro (Ed. 28) começa com uma matéria muito interessante na seção Treino. A matéria Semanão fala sobre a importância dos ciclos no desenvolvimento do corredor e que tentar colocar em uma única semana todos os tipos de treino é algo realmente complicado, quando não, improvável de ser feito. A sugestão é adotar um intervalo de tempo maior para que possamos incluir todos os treinos necessários para nosso desenvolvimento. A idéia é boa, simples e de praxe a revista ainda apresenta sugestões para os treinos de qualidade . Mas o que mais me marcou na reportagem foi a forma como foi identificado o nível do corredor. É a primeira vez que vejo algo do gênero, então segue o registro: Iniciante: aquele que corre até 24 Km semanais Intermediário: aquele que corre de 24 Km a 48 Km semanais Avançado: aquele que corre de 48 Km a 64 Km semanais Como você se vê? Sua quilometragem semanal será determinante para o desenvolvimento de sua capacidade como corredor, seja seu objetivo ganh