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Armadilhas da mente

Nas últimas semanas o ritmo no trabalho colocou minha resistência a prova. Viagens, noites mal dormidas, centenas de quilômetros na estrada e no ar. Cansaço, sono e desânimo vieram como aquela onda que nos engole e sacode para todos os lados. Uma verdadeiro e genuíno caixote.
Sexta a minha situação era tão deplorável que desisti do longão do sábado na hora em que coloquei a cabeça no travesseiro. Não consegui dormir cedo, apesar do cansaço e as coisas da vida não me deixavam relaxar. Acabei dormindo em meio a preocupações.
Sábado foi um dia para as coisas da casa e da família. O dia passou, mas a sensação de conforto e descanso não vieram. Bateu o desânimo quando me lembrei que as aulas da pós começariam no próximo sábado. Se a rotina já exige bastante, imagine com o sábado tomado pelas aulas? Tempo para estudar... como arrumar tempo para treinar? O corpo cedeu ao cansaço e eu me deixei embalar em um sono sem sonhos nesta noite.
Briguei com o despertador para levantar na manhã de domingo. Entre o café da manhã e o sinal de início do Runkeeper, eu me perguntei um cem número de vezes se valia pena continuar treinando. Lembrei que antes de dormir mandei um e-mail para a organização da Maratona do Rio, para saber se era possível trocar a inscrição para meia maratona. Afinal, volume para 21 Km eu já possuía.
Em meio a chuva fina iniciei os primeiros passos. Nos quinze minutos até a praia lembrei do Luke Skywalker e sua descrença, enquanto o Mestre Yoda tentava treiná-lo no pântano do planeta Dagobah. Minha cabeça estava fraca e sem muita certeza sobre como chegar ao fim do longão, que me desafiaria pela próxima hora e meia. Resolvi enfrentar as areias da Praia de Icaraí logo que venci a Ary Parreiras. Eu não pensava em nada além das cenas do filme Império Contra Ataca, enquanto procurava manter o ritmo. Cheguei a outra ponta da praia tranquilo, subi para o calçadão e segui em direção ao museu.
As piruetas do aprendiz de Jedi brilhavam na minha cabeça, enquanto eu vencia aquela subida sem muitos problemas. Então veio a orla da Boa Viagem e naquele instante ficou claro que o corpo estava bem. A cabeça era que estava fora do lugar. A consciência voltava na mesma proporção que a endorfina começava a circular. Cheguei a Cantareira e lembrei do Glaucio comentando o quão bom era correr na pista da UFF. Como o portão estava aberto, em pleno domingo, não tive dúvidas e entrei. Optei pela trilha de terra, que faz o entorno do campus. Terminava a volta completa na trilha, quando o Runkeeper informava que a primeira metade do treino acabara. Dei a volta para fazer todo o trajeto no sentido inverso de volta para casa.
Foi tudo muito tranquilo, até mesmo subir em direção ao MAC depois de mais de hora de treino. Mesmo o temporal que caiu quando chegava as areias da Praia de Icaraí não me perturbara. Cumpri o trajeto de 16 Km numa boa e ainda passei na padaria para comprar o pão francês para o desejum.
A diversidade no percurso ajudou a mexer com a combalida cabeça e trazer um pouco de paz e esperança para o coração, reacendendo assim a esperança de continuar com o projeto de correr a Maratona do Rio em julho.
Faltam 76 dias.

Comentários

  1. André,

    O fator psicológico é muito importante, especialmente, em corridas mais longas, como a maratona. Alguns chegam a dizer que o psicológico é 50% do sucesso para os amadores.
    Publicação muito boa.

    Parabéns !

    Julian
    http://www.julianrunner.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pelo elogio, Julian.
      Depois destes dias percebi que treinar é fácil. Difícil é a batalha mental para se manter a rotina.
      Mas isso é viver. Matar um leão todos os dias.
      Abraços

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  2. Uau! muito bom! o meu problema é com o meu pé, uma dor perto do dedão está meu deixando sem treinar. Não sei se tento correr com um pouco de dor ou espero ela desaparecer de vez. Enquanto isso fico na academia no fortalecimento.

    Abraços,

    Victor Caetano

    corridaurbana.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Velho,
      Se for dor no dedo, vai ao ortopedista. Se for unha, tem o Spá do Pé lá no Ingá. Muito bom.
      Lembre-se que cuidar de uma gripe é mais fácil que da pneumonia.
      Abraços.

      Excluir
  3. Somos sempre colocados à prova, não é mesmo?
    Dias ruins sempre vão existir, André. O importante é dar a volta por cima, valorizar e agradecer pelos bons! ;)
    Tenho certeza que você conseguiu sair disso tudo com uma dose extra de motivação!
    Rumo à maratona! :)

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